Por padre John Flynn, L.C.
ROMA, terça-feira, 27 de outubro de 2009 (ZENIT.org).-
Proteger as crianças da exploração sexual é hoje prioridade para muitos
governos e organizações privadas. Apesar disso, um recente informe
denuncia que não se está fazendo o suficiente para tratar a ameaça que a
pornografia dos adultos representa para as crianças.
"Morality in
Media", uma organização sem fins lucrativos com sede em Nova York,
publicou em setembro um estudo intitulado: "How Adult Pornography
Contributes To Sexual Exploitation of Children" (Como a pornografia
adulta contribui para a exploração sexual das crianças).
Ali se
sustenta que os organismos dos governos e as organizações privadas estão
ignorando as consequências do que qualificam de “exploração” da
pornografia adulta na internet e em outros lugares.
A pornografia adulta é uma ameaça para as crianças de diferentes formas, afirma o informe:
–Os delinquentes utilizam pornografia adulta para preparar suas vítimas.
–Para muitos delinquentes, há uma progressão desde ver pornografia adulta até ver pornografia infantil.
–Os
homens atuam com as crianças prostituídas como como veem na pornografia
adulta, e os aliciadores usam pornografia adulta para instruir as
crianças prostituídas.
–As crianças imitam com outras crianças o comportamento que veem na pornografia adulta.
–O
vício à pornografia de adultos destrói casamentos, e os filhos nos
lares com um só progenitor correm mais risco de sofrer exploração
sexual.
Preparação
O autor do informe, Robert Peters,
presidente de "Morality in Media", explica que há duas décadas, em sua
pesquisa sobre casos judiciais, esbarrou com múltiplos exemplos de
situações que implicam exploração sexual de crianças em que o acusado
adulto havia mostrado ou dado pornografia de adultos à vítima menor como
parte do processo de preparação.
Muitos debates têm-se centrado
no tema de se a pornografia de adultos causa crimes sexuais, observa.
Ainda que este assunto da causa direta ainda esteja em debate, Peters
comenta que, segundo sua experiência, a utilização de pornografia de
adultos por parte de depravadores para despertar e desensibilizar suas
vítimas menores é de verdade uma forma como a pornografia de adultos
contribui para causar dano.
Isso é mais que uma simples opinião
pessoal. Um dos apêndices do informe contém mais de 100 páginas de
recortes de notícias e casos judiciais que fazem referência a como os
delinquentes mostraram ou deram pornografia a uma criança ou a forçaram a
olhá-la.
O informe continua explicando que as pessoas que são
viciadas em pornografia requerem classes mais explícitas e anômalas de
material sexual conforme avança o tempo, de forma parecida a quem sofre
de vício de drogas. Assim, com o tempo, há uma necessidade crescente de
mais estímulo para alcançar o mesmo efeito inicial.
Peters também
observa que há uma tendência cada vez maior a reproduzir sexualmente os
comportamentos vistos na pornografia. Desta forma, os consumidores de
pornografia não são meros consumidores passivos, mas tendem a levar à
prática os comportamentos que veem.
Ameaça da mídia
Quanto
às crianças, o informe explica que se uma criança entrasse em uma
livraria adulta, ser-lhe-ia solicitado que saísse, posto que vai contra a
lei de vender pornografia às crianças no mundo real.
Pelo
contrário, se essa mesma criança está a ponto de entrar na maioria das
páginas web comerciais que distribuem pornografia adulta, é possível que
veja pornografia adulta gratuitamente e sem restrições. Supostamente,
quando se trata de internet, os tribunais pensam que a utilização por
parte dos pais de filtros é uma solução adequada para o problema,
comenta o informe.
Os pais têm um papel primordial na hora de
proteger as crianças do conteúdo danoso da internet, admite Peters. No
entanto, a maioria das crianças pode ter acesso à internet fora de casa
ou por meio de dispositivos móveis. Tudo que se necessita é que uma
criança em um grupo de amigos tenha acesso sem restrições à internet
para que todos tenham acesso, destaca o informe.
Peters também
afirmava que em seus muitos anos de experiência um número significativo
de aliciadores utiliza a pornografia não apenas para despertar e
instruir suas vítimas, mas também para exercitar a si mesmos.
Uma
das conclusões do informe é o pedido de que as Igrejas e outras
instituições religiosas façam mais frente ao problema da pornografia de
adultos.
Também os meios de comunicação e de entretenimento
poderiam ajudar a apresentar a produção e o consumo de pornografia
adulta como um problema real, em vez de uma questão sem nenhuma
significação moral ou social.
Vida familiar
A
observação do informe de que a pornografia fere a vida familiar e as
crianças não é uma opinião ilhada. Da Austrália, o Sydney Morning
Herald, em um artigo de 5 de março, falava do cenário de um marido
viciado no pornô. O “catastrófico desajuste emocional que sofre” por
este vício é um fato comum.
No ano passado, o telefone da
assessoria Mensline Australia teve crescimento de 34% no volume de
chamadas de homens que sentiam que a pornografia era um problema em sua
relação, comentava o artigo.
A possibilidade de aceder à
pornografia através de computadores e telefones tirou, por assim dizer, a
barreira de entrada, quer dizer, a vergonha de visitar um sex shop para
comprar uma revista ou um vídeo.
O artigo observava que também é
um problema grave para as mulheres. “Há uma boa proporção de mulheres
que vê o uso do pornô por seu parceiro como uma infidelidade”, afirmava o
sociólogo Michael Flood. "Inclusive quando ele é honesto sobre isso,
algumas mulheres consideram o uso do pornô como uma espécie de
adultério”.
O nexo entre a multimilionária indústria do pornô e o
apetite sexual converteu-se em algo como a relação entre as refeições
extragrandes e a obesidade, sustentava a feminista Naomi Wolf em um
artigo publicado a 4 de abril no Times.
“A onipresença das imagens sexuais não libera o poder de Eros, mas o diluem”, afirmava.
Um
artigo publicado no jornal canadense Ottawa Citizen a 29 de maio dava
mais evidências sobre as implicações disso para as crianças. Richard
Poulin, professor de sociologia na Universidade de Ottawa, participou de
uma conferência em Montreal intitulada: “Jovens, mídia
e sexualidade”.
Ele
observava que as agressões sexuais são cometidas agora por jovens.
Ademais, uma pesquisa realizada entre estudantes da Universidade de
Ottawa manifestou que a média de idade em que viram pela primeira vez
pornografia era de 13 anos. Entre aqueles cujos pais tinham a
pornografia em casa, a idade era menor, entre 10 e 11 anos.
Poulin
também citava uma pesquisa que mostrava que um em cada cinco homens
entre 22 e 23 anos admitia sentir-se atraído por meninas de 13 anos.
“Esta não é uma tendência trivial”, indicava.
Ambiente sadio
Bento
XVI abordava o tema da pornografia em seu discurso de 16 de abril de
2008 aos bispos norte-americanos, durante a visita aos EUA.
“As
crianças têm direito a crescer com uma sadia compreensão da sexualidade e
de seu justo papel nas relações humanas”, recomendava. “A elas se
deveriam evitar as manifestações degradantes e a vulgar manipulação da
sexualidade hoje tão preponderantes”.
As crianças têm o direito de
ser educadas nos autênticos valores morais baseados na dignidade da
pessoa humana, continuava o pontífice.
“Que significa falar da
proteção das crianças quando em tantas casas se pode ver hoje
pornografia e violência através dos meios de comunicação amplamente
disponíveis?”, perguntava.
Ao tratar este problema, o Papa falava
da necessidade urgente de determinar os valores que guiam a sociedade de
hoje. Se de verdade quisermos cuidar dos jovens, todos temos de
reconhecer nossa responsabilidade de promover e viver os valores morais
autênticos, que permitam prosperar a todos, concluía.
Uma recordação oportuna do perigo de fechar os olhos ante um problema que se ignora com muita frequência.
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