Entrevista com Dom Mariusz Frukacz, redator do semanário Niedziela
Por Antonio Gaspari
ROMA, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) - Em 1º de maio, Bento XVI beatificará em Roma o seu predecessor, Karol Wojtyla.
Para
ajudar a entender melhor as virtudes e a santidade de João Paulo II,
ZENIT publicará diversos testemunhos de pessoas que o conheceram e
conviveram com ele.
Começamos entrevistando Mariusz Frukacz, sacerdote da arquidiocese de Częstochowa, redator do semanário católico Niedziela e correspondente diocesano da Agência Católica de Informação.
ZENIT:
A Polônia ficou submetida duramente ao regime soviético. O que
significou para o povo a eleição de João Paulo II como papa?
Pe.
Frukacz: Em 1978, quando o Card. Wojtyła foi eleito Pontífice com o
nome de João Paulo II, a Polônia estava esmagada pelo regime comunista.
A eleição de João Paulo II, o primeiro Pontífice eslavo, teve uma
grande relevância não só para a Polônia, mas para toda a Europa central
e oriental. O povo na Polônia, mas também nos outros países submetidos
ao regime soviético, vislumbrou, além da grande alegria, também o
espírito da liberdade. João Paulo II trouxe consigo a fidelidade ao
Evangelho e a coragem da fé na verdade. Para mim, as palavras “Não
tenham medo, escancarem as portas para Cristo” deram vida às mudanças
da época na Polônia e em toda a Europa. A eleição de João Paulo II
significou o início da primavera da liberdade. A eleição daquele
Pontífice deu ao povo polonês a força espiritual e moral para passar da
resistência contra a injustiça para a vitória do bem sobre o mal. João
Paulo II deu a largada para a revolução espiritual e moral na Polônia e
nos outros países da Europa central e oriental.
ZENIT: É verdade que os russos não invadiram a Polônia porque Wojtyla era o Papa?
Pe.
Frukacz: Esta pergunta não tem uma resposta simples. Ainda não
conhecemos todos os documentos do regime comunista, e pouco se sabe do
período em que o general Wojciech Jaruzelski instaurou o estado de
guerra, em que foram suspensos os direitos civis, em que os ativistas
do Solidarność foram presos. Eu acho que alguns historiadores têm razão
quando escrevem que os russos não invadiram a Polônia porque não
queriam repetir a situação de 1968, quando invadiram a Tchecoslováquia.
O general Wojciech Jaruzelski afirma que no dia 13 de dezembro de 1981
teve que instaurar o estado de guerra na Polônia porque, se não, os
russos teriam invadido o país. Hoje sabemos que Jaruzelski não falou a
verdade. Do ponto de vista de alguns documentos e com base em
testemunhos, os historiadores da Polônia sustentam que o regime
comunista, em especial Leonid Brezniev, o primeiro-secretário do
partido comunista da União Soviética, queria que o general Jaruzelski e
o regime comunista na Polônia resolvessem o problema do Solidarność com
suas próprias forças. Sabemos também que, durante o estado de guerra na
Polônia, João Paulo II mantinha estreitos contatos diplomáticos com o
presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e que escreveu a Leonid
Breżniev para convencê-lo a não invadir a Polônia. Apesar disso, não
podemos dizer com suficiente certeza que os russos não invadiram a
Polônia porque o Card. Wojtyla era Papa.
ZENIT: O nazismo,
primeiro, e o comunismo, depois, tentaram arrancar as raízes cristãs e
apagar a fé católica do povo polonês. Por que não conseguiram?
Pe.
Frukacz: É verdade que o nazismo e o comunismo tentaram arrancar as
raízes cristãs e apagar a fé católica do povo polonês. E não
conseguiram. Penso que o recurso decisivo que salvou a fé católica
foram as famílias polonesas, que respeitaram e transmitiram aos filhos
o patrimônio espiritual das gerações precedentes. Nas famílias cristãs
polonesas, durante o regime nazista e depois no comunista, era vivo e
forte o vínculo da fé com a cultura cristã e a cultura nacional. Para o
povo polaco, a fé tem a sua importância também na vida social. Não é
uma coisa privada. A fé tem uma dimensão social e nacional. Para os
polacos, a fé é vinculada ao patriotismo verdadeiro, que é amor por
Deus e pela Pátria.
Acho também que um grande papel para manter
fortes as raízes cristãs na sociedade polaca foi desempenhado pelos
movimentos e associações cristãs, como o Movimento Luz e Vida, do Servo
de Deus Franciszek Blachnicki. Também teve muita importância o Clube da
Inteligência Católica, a pastoral acadêmica e as semanas da cultura
cristã, quando os artistas apresentavam e transmitiam nas igrejas a
cultura e a literatura nacional para os fiéis.
Outro papel-chave
foi do Card. Stefan Wyszyński, Primaz do Milênio. Foi ele que organizou
os "Votos de Jasna Góra" em 1956, a novena pelos mil anos do
cristianismo na Polônia (1957-1966). O Card. Wyszyński aprofundou e
difundiu a "Teologia da Nação" para reforçar a identidade católica dos
poloneses. João Paulo II também testemunhou a relevância e a grandeza
da figura de Wyszyński quando disse: “Não teria havido um Pontífice
polaco no trono de Pedro se não fosse pela fé do Card. Wyszyński”.
ZENIT:
Primeiro a beatificação de Jerzy Popieluszko, agora a de Karol Wojtyla,
dois heróis modernos. Existem muitos elementos comuns na coragem e no
testemunho heroico de ambos. Pode ressaltá-los?
Pe. Frukacz:
Claro, são muitos elementos comuns. O primeiro, eu considero, é a forte
fé. O beato Popiełuszko e João Paulo II são homens de fé no sentido de
total obediência a Deus. Os dois são também homens que realizaram na
vida a verdadeira fidelidade ao Evangelho e aos valores cristãos. Em
nome do Evangelho e do respeito aos valores cristãos na esfera da vida
pública, eles defenderam os direitos humanos e a dignidade da pessoa
humana. Os dois deram verdadeiro testemunho de Cristo até derramar o
sangue. O beato Jerzy Popiełuszko foi morto pelos serviços secretos
comunistas. João Paulo II sofreu um atentado na Praça de São Pedro no
dia 13 de maio de 1981.
Don Popiełuszko e João Paulo II
promoveram os direitos humanos, os direitos dos trabalhadores e a
dignidade das pessoas humanas, tudo à luz do Evangelho. Para a Polônia
e para o mundo inteiro, eles testemunharam a coragem, a fidelidade a
Deus, à Cruz de Cristo e ao Evangelho, o amor por Deus e pela Pátria.
Os dois representaram o patriotismo em sentido cristão, como virtude
cultural e social. Acho que um elemento comum aos dois é a
espiritualidade mariana e a confiança total em Maria. Para don
Popiełuszko, o exemplo era São Maximiliano Kolbe, e para João Paulo II
era São Luis Maria Grignion de Montfort.
ZENIT: O senhor
conheceu e conviveu com Karol Wojtyla. Quais são, do seu ponto de
vista, as qualidades singulares de João Paulo II?
Pe.
Frukacz: Meu primeiro encontro com João Paulo II foi na viagem
apostólica à Polônia, em junho de 1979. Eu tinha 8 anos. Me lembro bem
da figura branca com os braços abertos. Me lembro do clima de alegria
daqueles dias históricos. Me lembro também das lágrimas dos meus pais,
especialmente do meu pai, Marian, que fazia parte do Solidarność. Nos
anos seguintes, participei com os meus familiares nos outros encontros
com João Paulo II em Jasna Góra e em Częstochowa, durante as viagens de
1983, 1987, 1991, 1997, 1999.
Muito importante também para a
minha espiritualidade foi o encontro em agosto de 1991, quando João
Paulo II veio abençoar o nosso Seminário Maior em Częstochowa. Eu
estava no segundo ano. As palavras do papa me bateram muito quando ele
disse: “Com dedicação total, própria da postura de Maria sob a Cruz...
proclamar o Evangelho do Seu Filho e testemunhá-lo na vida, com
generosidade, sem nenhum compromisso com o espírito deste mundo e sem
medo nenhum”.
O Papa polaco foi um homem de oração. Está viva na
minha alma a Missa que concelebrei com João Paulo II na capela privada
do Palácio Apostólico, em 7 de setembro de 2000. Penso que João Paulo
II foi um homem de genuína alegria cristã. Durante os meus estudos em
Roma (2000-2007) pude encontrá-lo e falar com ele na época de Natal, e
me lembro bem dele entoando conosco os cantos de Natal. Penso que João
Paulo II foi um homem de grande amor ao próximo, a Cristo e à Igreja.
Ele amava muito Maria, foi um homem do terço. Sempre trago comigo o
terço que ele me deu.
ZENIT: Quantos poloneses virão a Roma para a beatificação de João Paulo II?
Don
Frukacz: Não dá para dizer a quantidade certa, mas posso dizer que a
Polônia toda está em movimento. A mídia polonesa diz que, para a
beatificação de João Paulo II, virão a Roma mais de um milhão de
peregrinos da Polônia.
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