Não exclusivamente.
Aos que afirmam que "o que importa é o coração", vale lembrar que aqui
não cabe a aplicação deste princípio, pois isso implicaria colocar-se em
contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja,
bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos,
velas, flores, incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade
de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito do que
acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a
honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as
atitudes externas é um erro.
A este respeito, escreveu o saudoso Papa João Paulo II: "De modo
particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa
como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença
Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os
gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. (...) Numa palavra, é
necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos
ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo." (Mane
Nobiscum Domine, 18)
O ser humano é corpo e alma, e faz parte da natureza humana manifestar a
disposição interior por meio de gestos (abraçar, dar presente, se
vestir bem, arrumar a mesa para uma festa). E a Sagrada Liturgia é
perfeitamente compatível com a natureza e as necessidades do ser humano.
É preciso haver um equilíbrio no sentido de que a disposição interna é
expressa pelos gestos externos, e os gestos externos, por sua vez,
reforçam a disposição interna. É um círculo vicioso.
Os gestos externos sem a disposição interior são um erro (farisaísmo); a
disposição interior sem a atenção aos gestos externos também é um erro,
pois se contrapõe à elementos fundamentais da Sagrada Liturgia (afinal,
somos alma e corpo, não somos o "Gasparzinho").
Por exemplo: como vamos convencer o mundo que Nosso Senhor Jesus Cristo
está verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento, se tratarmos a
Hóstia Consagrada como um alimento qualquer?
É preciso frizar aqui a importância do vestir-se com solenidade na
Sagrada Liturgia. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1387) afirma, sobre
o momento da Sagrada Comunhão: "A atitude corporal – gestos, roupa – há
de se traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que
Cristo se torna nosso hóspede."
É preciso evitar, então, primeiramente as roupas que expõe o corpo de
forma escandalosa, como decotes profundos, shorts curtos ou blusas que
mostrem a barriga. Mas convém que se evite também tudo o que contraria,
como afirma o Catecismo, a alegria, a solenidade e o respeito – isto é,
banaliza o momento sagrado.
O bom senso nos mostra, por exemplo, que partindo d princípio da
solenidade, é melhor que se use uma calça do que uma bermuda. Ora, na
nossa cultura, não se vai a um encontro social solene usando uma
bermuda!
O bom senso nos mostra também que, partido do princípio do respeito e da
não-banalização do sagrado, é melhor que se evite roupas que chamam
atenção para o corpo ou para elementos não relacionados com a Sagrada
Liturgia. É melhor que uma mulher, por exemplo, utilize uma blusa com
mangas do que um blusa de alcinha; é melhor que utilize uma calça
discreta, saia ou vestido do que uma calça "mulher-gato" (isto é,
apertadíssima); também é melhor que se utilize, por exemplo, uma camisa
ou camiseta discreta do que uma camiseta do Internacional ou do Grêmio.
São Josemaria Escrivá, em um de suas fantásticas homilias, recorda seus
tempos de infância, dizendo: ""Lembro-me de como as pessoas se
preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo.
As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo,
talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente
enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor."
Afirma ainda: "Quando na terra se recebem pessoas investidas em
autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos
Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?"
("Homilias sobre a Eucaristia", Ed. Quadrante)
Vivemos em uma sociedade de imagens, e uma imagem fala mais do que mil palavras...
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