27 de janeiro de 2010

Maternidade Espiritual para Sacerdotes - Parte 3

Eliza Vaughan

É uma verdade evangélica que as vocações sacerdotais devem ser pedidas com a oração. Evidencia-o Jesus no evangelho quando diz: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe!” (Mt 9,37-38). Oferece-nos um exemplo muito significativo a inglesa Eliza Vaughan, mãe de família e mulher dotada de espírito sacerdotal, que rezou muito para as vocações.

 Certa do poder da oração silenciosa e fiel, Eliza Vaughan reservava cada dia uma hora de adoração na capela da casa, rezando pelas vocações na sua família. Tornando-se mãe de seis sacerdotes foi grandemente atendida. Falecida em 1853, Mamãe Vaughan foi enterrada em Courtfield, na propriedade da família que ela tanto amara. Hoje Courtfield é um centro de exercícios espirituais da diocese de Cardiff. Com o exemplo da santa vida de Eliza, em 1954 a Capela da Casa foi consagrada pelo bispo como “Santuário de Nossa Senhora das Vocações”, título que foi confirmado no ano 2000.

Eliza provinha de uma família protestante, a dos Rolls, que sucessivamente fundou a indústria automobilística Rolls-Royce, mas quando jovem, durante sua permanência e educação na França, havia ficado muito impressionada pelo exemplar empenho da Igreja católica para com os pobres. No verão de 1830, após o casamento com o coronel John Francis Vaughan, Eliza, apesar da forte resistência de seus parentes, converteu-se ao catolicismo. Havia tomado essa decisão com convicção e não somente por ter entrado a ser parte de uma famosa família inglesa de tradição católica. Os antepassados Vaughan, durante a perseguição dos católicos ingleses sob o reinado de Elisabeth I (1558-1603), preferiram sofrer a expropriação dos bens e a prisão antes que renunciar à própria fé.

Courtfield, a residência originária da família de seu marido, tornara-se, durante as décadas de terror, um abrigo para os sacerdotes perseguidos, um lugar onde celebrava-se a S.Missa. Desde então haviam passado três séculos, mas nada mudara no espírito católico
da família.

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Doemos os nossos filhos a Deus 

Convertida no fundo do coração, cheia de zelo, Eliza propôs ao marido de doar os filhos a Deus. Essa mulher de elevadas virtudes rezava cada dia durante uma hora frente ao Santíssimo Sacramento na Capela da residência de Courtfield, pedindo a Deus uma família numerosa e muitas vocações religiosas entre seus filhos. Foi atendida! Teve 14 filhos e morreu pouco depois do nascimento do último filho em 1853. Dos 13 filhos vivos, entre os quais 8 homens, seis se tornaram sacerdotes: dois em ordens religiosas, um sacerdote diocesano, um bispo, um arcebispo e um cardeal. Das cinco filhas, quatro se tornaram religiosas. Que benção para a família e quais efeitos para toda a Inglaterra!

Todos os filhos da família Vaughan tiveram uma infância feliz, porque na educação sua santa mãe possuía a capacidade de associar de modo natural a vida espiritual e as obrigações religiosas com as diversões e a alegria. Por vontade da mãe faziam parte da vida quotidiana as orações e a S. Missa na capela da casa, bem como a música, o esporte, o teatro amador, a equitação e as brincadeiras. Os filhos não se entediavam quando a mãe lhes contava as vidas dos santos, que aos poucos se tornaram para eles amigos íntimos. Eliza levava consigo os filhos também nas visitas e nos cuidados aos doentes e aos sofredores das vizinhanças, para que pudessem nestas ocasiões aprender a serem generosos, a fazer sacrifícios, a doar aos pobres suas poupanças e seus brinquedos.

Ela faleceu pouco depois do nascimento do décimo quarto filho, John. Dois meses após a sua morte, o coronel Vaughan, convencido que ela havia sido um dom da Providência, escreveu numa carta: “Hoje, durante a adoração, agradeci o Senhor, por ter podido devolver a Ele minha amada esposa. Abri a Ele o meu coração cheio de gratidão por ter-me doado Eliza como modelo e guia, a ela ainda me liga um vínculo espiritual inseparável. Que maravilhosa consolação e que graça me transmite! Ainda a vejo como sempre a vi frente ao Santíssimo com aquela sua pura e humana gentileza que lhe iluminava o rosto durante a oração”.

Trabalhai nas vinhas do Senhor

As numerosas vocações entre os filhos do casal Vaughan são realmente uma extraordinária herança na história do Reino Unido e uma benção que provinha principalmente da mãe Eliza. Quando Herbert, o filho mais velho, aos dezesseis anos anunciou aos pais que queria se tornar sacerdote, as reações foram
diferentes. A mãe, que havia rezado muito para que isso acontecesse, sorriu e disse: “Meu filho, eu já sabia há muito tempo”. O pai porém precisou de um pouco de tempo para aceitar o anúncio, pois sobre o filho mais velho, herdeiro da casa, havia colocado muitas esperanças e havia pensado para ele uma brilhante carreira militar. Como teria podido imaginar que Herbert iria se tornar arcebispo de Westminster, fundador de Millhill e sucessivamente cardeal?
Herbert Vaughan tinha dezesseis anos quando no verão, durante um retiro espiritual, resolveu ser sacerdote. Foi ordenado em Roma aos 22 anos de idade e mais tarde tornou-se bispode Salford na Inglaterra e fundador dos Missionários de Millhill, que hoje atuamno mundo inteiro. Finalmente tornou-se Cardeal e terceiro arcebispo de Westminster.No seu brasão está escrito: “Amare et Servire!”. O seu programa estava enunciado na frase “O amor deve ser a raiz da qual brota todo o meu serviço”.



Mas o pai também logo persuadiu-se e escreveu para um amigo: “Se Deus quer Herbert para si, pode ter também todos os outros”. Reginaldo porém casou-se, como Francis Baynham, que herdou a propriedade da família. Deus chamou ainda outros nove filhos dos Vaughan. Roger, o segundo, tornou-se prior dos  beneditinos e mais tarde amado arcebispo de Sydney, na Austrália, onde mandou construir a catedral. Kenelm tornou-se cisterciense e mais tarde sacerdote diocesano. José, o quarto filho dos Vaughan, foi beneditino como o irmão Roger e fundador de uma nova abadia.

Bernardo, talvez o mais animado de todos, que amava muito a dança e o esporte, que não perdia uma diversão, tornou-se jesuíta. Conta-se que no dia anterior ao seu ingresso na ordem, tenha tomado parte de um baile e tenha dito a sua parceira: “Este que estou fazendo com a senhora é meu último baile porque serei jesuíta!”. Surpresa, a jovem teria exclamado: “Mas por favor! Logo o senhor, que tanto ama o mundo e dança maravilhosamente bem, quer ser jesuíta?”. A resposta, mesmo se pode ser interpretada de várias maneiras, é muito bonita: “Exatamente por isso me entrego a Deus!”. John, o mais novo, foi ordenado sacerdote pelo irmão Herbert e sucessivamente tornou-se bispo de Salford na Inglaterra. Das cinco filhas da família, quatro se tornaram religiosas. Gladis entrou na ordem da visitação, Teresa foi irmã da misericórdia, Claire irmã clarissa e Mary priora junto às agostinianas. Margareta também, a quinta filha dos Vaughan, queria ser freira, mas não pôde por causa de sua saúde fraca. Viveu, porém, em casa como consagrada e passou os últimos anos de sua vida num mosteiro.

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